E o nosso país ficou mais pobre. faleceu o escritor, entre outras muitas coisas, Manuel Pina. O primeiro livro "para" crianças que Manuel António Pina escreveu tinha por título O País das Pessoas de Pernas para o Ar. Foi em 1973 e obrigou-o "a uma conversa com a PIDE, por ter desrespeitado a religião católica". Motivo: a história O Menino Jesus não Quer Ser Deus. O autor contou este episódio na XVIII Conferência de Literatura Infantil da Gulbenkian, altura em que disse também: "Eu sei lá para quem é que escrevo." E assim reforçou a embirração que se lhe conhece com a fórmula "literatura 'para' crianças".
Seria esta obra que viria "a estimular muitos autores a entrar no mundo da literatura infantil", disse ao PÚBLICO o escritor Álvaro Magalhães. Amigos há 30 anos, Álvaro Magalhães chamou-lhe "Navegador solitário" num artigo que escreveu para o Jornal de Letras em 2008 sobre o agora prémio Camões. "Pois bem, os livros ditos infantis do Manuel António Pina são um pouco assim: como se fossem literatura para adultos, mas tão melhores que até as crianças os podem ler." Depois desta obra inicial, seguiram-se outras igualmente inovadoras, como Gigões & Anantes, O Têpluquê, Perguntem aos Vossos Gatos e Cães ou O Inventão.
Neste universo, os textos de Manuel António Pina "são sempre poemas". É uma literatura que assenta na materialidade da linguagem, conjugada com humor e nonsense. Um talento ímpar em virar as palavras do avesso (ou de "pernas para o ar"). Experimentem, tenho a certeza que vão gostar.
CC
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